
Caderno Eletrocar
Eletrificados superam previsões e batem recorde de venda. Tendência deve se manter em 2025
por Joel Leite
Mesmo as previsões otimistas não consideravam um crescimento tão expressivo das vendas de veículos eletrificados. O ano de 2024 terminou com um volume histórico: foram licenciadas 177.358 unidades, crescimento de 89% sobre 2023 (93.927).
E as vendas de dezembro indicam que 2025 deve manter o segmento em crescimento contínuo: foram vendidos, no último mês do ano, 21.634, volume bem acima da média mensal, que foi de 14,7 mil unidades.
“Temos muito a comemorar. Foi um ano espetacular para a eletromobilidade, um ano de crescimento sustentável e números muito expressivos”, diz Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Nos números acima não estão incluídos os veículos comerciais: foram vendidos, ainda, 408 caminhões e 314 ônibus, todos elétricos puros.

O plug-in na dianteira
Com as dúvidas do consumidor em relação à eficiência do elétrico puro no que se refere ao abastecimento (afinal, a infraestrutura ainda é incipiente), o plug-in acabou se transformando na preferência do brasileiro que aposta na eletrificação. O híbrido, que oferece a possibilidade de recarga externa na bateria, teve a maior participação no ano passado: nada menos que 71% das vendas foram do modelo plug-in, com 125.624 veículos licenciados, um crescimento de 140% sobre 2024.
Os híbridos sem recarga externa (HEV, HEV flex e MHEV) ficaram com 29% de participação (51.733), incluindo os micro-híbridos, que usam uma bateria de apenas 12volts e criaram uma polêmica no mercado.
Vendas em 2024
Segmento Unidades Participação
PHEV 64.009 36,09%
BEV 61.615 34,74%
HEV flex 20.277 11,43%
MHEV 16.185 9,13%
HEV 15.271 9,13%
Mícro-híbrido é carro eletrificado?
Com o lançamento do Pulse Hybrid e do Fastback Hybrid, a Fiat introduziu uma nova categoria de carro eletrificado que a ABVE classifica como micro-híbrido, mas isso criou uma polêmica técnica, pois há dúvidas se eles podem ser considerados veículos eletrificados, uma vez que possuem uma bateria de apenas 12 volts e não têm tração elétrica. Para Ricardo Bastos, são carros que não entregam ao consumidor uma experiência real de eletromobilidade.
De qualquer forma, pelo poder da Fiat, as vendas nesse segmento tendem a crescer. Em menos de dois meses (o lançamento foi no início de novembro de 2024), foram vendidas 3.828 unidades.
A ABVE considera veículos eletrificados as tecnologias com grau significativo de eletrificação: os 100% elétricos (BEV), híbridos plug-in (PHEV), híbridos puros (HEV), híbridos a gasolina/álcool (HEV Flex), e mild hybrid (MHEV). E avalia que alguns dos novos modelos que estão sendo lançados como híbridos, a rigor, não podem ser considerados eletrificados.
“Eles não apenas não oferecem ao consumidor as vantagens de dirigir um verdadeiro veículo elétrico, como têm pouca ou nenhuma contribuição para a redução das emissões de gás carbônico (CO²) e outros gases do efeito estufa”, explica Ricardo.
Mercado de usados começa a desponta
O Selo Maior Valor de Revenda, que há 23 anos avalia a depreciação de veículos no mercado brasileiro, revelou que o segmento acompanha o comportamento dos carros a combustão. A Certificação 2024, entregue aos ganhadores em dezembro último, destacou o Ford Mustang como o elétrico puro mais valorizado do mercado, com depreciação de apenas 5,2% após um ano de uso, enquanto o Volvo XC90 plug-in teve depreciação ainda menor, apenas 3,8%. Foi o melhor desempenho do mercado brasileiro, incluindo os modelos a combustão.
O aumento de vendas de eletrificados usados foi expressivo em 2024. Foram 67.797 unidades de híbridos, um aumento de 86,8%, e 10.733 elétricos puros, alta de 212% em relação ao ano anterior.


Híbridos usados mais vendidos
- Corolla 1.248 unidades
- Corolla Cross 1.145
- BYD Dolphin 636
- Volvo XC60 465
- BYD Song Plus 340
- Toyota Rav 4 283
- BMW Série X 270
- Volvo XC40 222
- Tiggo 5X 188
- Tiggo 8 171
Elétricos puros usados mais vendidos
- BYD Dolphin 636
- Volvo XC40 103
- GWM Ora 99
- BYD GS 65
- Nissan Leaf 61
- BYD Yuan 59
- Porsche Taycan 58
- BMW X 57
- Mini 55
- Volvo C40 40
Embora os veículos elétricos sejam apontados como o futuro da sustentabilidade, com o potencial de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e minimizar os impactos ambientais, os desafios para sua real implantação no Brasil ainda são grandes.
Desafios para o carro elétrico
Cristiane Pimentel, do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), organização mundial que reúne cientistas voltados para a tecnologia em benefício da humanidade, afirma que o carro elétrico no Brasil está em franca expansão, mas enfrenta desafios significativos para a adoção em larga escala.
“Ao contrário de países desenvolvidos, que contam com tecnologias robustas e infraestrutura avançada, o Brasil enfrenta particularidades econômicas e territoriais que tornam a transição mais complexa. Para viabilizar a mobilidade elétrica no país, a expansão da rede de estações de carregamento é essencial.”
Com uma rede ainda concentrada nas grandes cidades, a especialista acredita que o processo de implantação do abastecimento pode levar de cinco a 15 anos.
De qualquer forma, a rede de eletropostos no Brasil vem crescendo de forma expressiva, tornando a mobilidade elétrica mais acessível.

Eletropostos, uma rede em construção
A rede de eletropostos registrou 12.137 pontos de recarga para veículos elétricos em 2024, segundo a Tupi Mobilidade, aplicativo líder no setor no Brasil e na América latina, reduzindo as incertezas quanto ao uso de veículos elétricos em maiores distâncias. Desses, 10.621 são postos de carregamento lento e 1.516 de carregamento rápido.
É uma rede ainda muito limitada, considerando o tamanho do território brasileiro, mas os principais centros urbanos das Regiões Sul e Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Porto Alegre) podem se considerar bem atendidos.
Algumas marcas têm ampliado a rede com instalação de eletropostos próprios, para atender seus clientes e usuários de outras marcas, com postos instalados em pontos estratégicos, como concessionárias, supermercados e shopping centers. Empresas de energia e tecnologia, como Enel X, Weg, Eletrobras e Raízen, também montam redes próprias.
Os pontos de recarga podem ser localizados por aplicativos, alguns deles indicam o tempo de recarga e horário de funcionamento, além do tipo de carregador: AC (lento) ou DC (rápido).
Davi Bertoncello, diretor da Tupi, acredita que a rede de eletropostos vai continuar tendo crescimento expressivo, mas não como nos últimos anos, quando os números dobraram. Ele estima que em 2025 haverá crescimento de postos ultrarrápidos e que o Brasil terá 20 mil pontos instalados até o fim do ano, sendo quatro mil DC.
Além disso, o uso de carregadores portáteis pode aliviar a pressão pelo aumento da rede de eletropostos, além de facilitar a vida do usuário. No caso do modelo plug-in, o carregamento em casa ou no local de trabalho é uma boa alternativa, uma vez que o uso da eletricidade não é essencial para a condução. Ao contrário, o dono do plug-in pode até se valer da energia contida na bateria do seu carro para uso domiciliar.

Uma paella com a energia do Haval H6
Nós fizemos uma experiência com o GWM Haval H6, o híbrido mais vendido do Brasil em 2024, com 22.893 unidades emplacadas. Usamos a bateria desse modelo plug-in como fonte de energia para preparar uma paella numa panela elétrica conectada ao carro. E deu tudo certo!
O sistema pode ser usado em várias situações, como num acampamento em local sem energia elétrica, podendo fazer a iluminação, a ventilação artificial, o churrasquinho sem sujeira e até o cafezinho. E pode ser muito útil também em caso de falta de energia na casa. A bateria do Haval H6 funciona como uma fonte de energia, podendo conectar qualquer tipo de aparelho, nas voltagens 220 ou 110.
Operar a fonte de energia é muito simples: o carro vem com o cabo V2L, que deve ser conectado na mesma entrada do carregamento da bateria. No painel, acione o Assistente de Consumo de Energia e, em seguida, habilite o V2L na multimídia.


Eletricidade é solução para o transporte urbano de carga
O uso do veículo elétrico nos grandes centros urbanos caiu como uma luva no interesse dos transportadores e em entregadores de mercadorias. Nos últimos tempos, as grandes empresas de delivery passaram a incluir na frota vans e outros veículos comerciais para atender às necessidades de redução das emissões. Em alguns casos, as antigas frotas de veículos a combustão foram simplesmente substituídas por modelos de emissão zero.
Não por acaso, várias marcas passaram a atender a essa crescente demanda, pois o número de empresas que operam com veículos elétricos puros é imenso: Ambev, Mercado Livre, Magazine Luiza, Carrefour, Pão de Açúcar, Amazon, Correios, DHL e daí por diante.
Desde 2023, a Ford atende grandes frotistas. Em março do ano passado, passou a comercializar a E-Transit, nos modelos furgão e chassi cabine, somando 360 unidades emplacadas até o momento.
Os principais clientes da empresa estão no segmento logístico e e-commerce, implementando iniciativas de ESG e redução de custo operacional da frota. O carro oferece múltiplas aplicações e flexibilidade para ser convertido em transporte de passageiros ou ambulâncias. A versão chassi é destinada a áreas de difícil acesso e operação rodoviária, podendo receber implementos como baú, plataforma e carga seca.
A Transit é líder no segmento de veículos comerciais elétricos até cinco toneladas e acima de 6 m³, e a projeção para este ano é de crescimento. A Stellantis oferece o Peugeot ë-Expert, o Citroën ë-Jumpy e o Fiat e-Scudo. Os três modelos são equipados com o mesmo motor elétrico de 136 cv com torque de 26,5 kgfm. Também são equipados com a mesma bateria de 75 kw. A BYD atende o segmento com a eT3, com capacidade de carga é de 808 kg e 3,3 mil litros de volume, e roda 170 km com uma carga na bateria. E a JAC oferece dois modelos no Brasil: a E-JV5.5 (1.020 kg de capacidade de carga e autonomia de 300 km) e uma van com motor de 204 cv.
Renault elétricos são eleitos os carros do ano na Europa
Dois carros elétricos puros da Renault ganharam o concurso Carro do Ano 2025 na Europa, título concedido pelo júri Coty Carro do Ano, o 5 E-Tech e o Alpine A290. Ambos são construídos sobre a mesma e única plataforma Ampr Small da Ampere na Europa.
O Renault 5 concorreu com seis finalistas: Alfa Romeo Junior, Citroën C3-ëC3, Cupra Terramar, Dacia Duster, Hyundai Inster e Kia EV3, todos eletrificados, sendo a maioria 100% elétricos.

Fonte: Revista Eletrolar News – Edição #165