Conectividade é aposta para a indústria de eletroeletrônicos
Eletrolar Show conta com exposição de cerca de 10 mil produtos de 700 marcas
Soluções inteligentes para o que pode ser “a casa do futuro” aos poucos começam a chegar mais perto do consumidor final. Parte dessas inovações, que a cada ano priorizam mais o controle automatizado de tarefas simples, está sendo apresentada ao varejo na Eletrolar Show, feira considerada a maior do setor de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e eletroportáteis na América Latina, realizada em São Paulo.
O diretor do Grupo Eletrolar, Carlos Clur, destaca que a grande tendência é a conectividade das casas inteligentes e a utilização da Inteligência Artificial (AI) nas rotinas diárias. “São quase mil produtos novos sendo apresentados para o varejo de eletroeletrônicos nesta edição, mostrando a importância dos novos padrões de consumo ao mercado”, afirmou Clur durante coletiva de abertura da Eletrolar Show. A edição deste ano conta com a exposição de cerca de 10 mil produtos de 700 marcas do segmento. São esperados 26 mil visitantes até o encerramento, na quinta-feira.
Os eletroeletrônicos possuem importância significativa de consumo devido à presença expressiva no dia a dia dos brasileiros, destaca Alessandro Germano, diretor de desenvolvimento de negócios do Google. De olho nesse nicho, a gigante de tecnologia tem concentrado grandes investimentos no Google Assistente, plataforma que permite ao usuário realizar uma série de tarefas através da voz. Desde fevereiro, a plataforma está disponível em português para controle de eletros dentro da casa. “Mundialmente, já são mais de 30 mil produtos compatíveis com a tecnologia do Google Assistente, que vão desde o controle de lâmpadas a aspirador de pó e carros, e o Brasil é um dos mercados mais destacados no mundo para este ramo”, observa Germano.
Alessandro Germano (com microfone) destaca serviços do Google Assistente. Foto Eletrolar Show/Divulgação/JC
Os lançamentos cada vez mais atentos ao apelo tecnológico ocorrem em momento em que a indústria de bens duráveis ainda espera por recuperação. Segundo o presidente executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge Nascimento Júnior, o reaquecimento da economia ainda é considerado prematuro, ainda que os industriais trabalhem expectativa de volta de alta no segundo semestre do ano.
“O setor eletroeletrônico é o espelho da economia do país, pois reflete o hábito do consumo”, avalia o presidente da entidade formada por mais de 30 indústrias do segmento, entre elas três gaúchas – Tramontina, Midea Carrier e Black & Decker.
Em 2018, as empresas associadas da Eletros faturaram R$ 47,7 bilhões. O segmento ainda foi responsável pela criação de 150 mil postos de trabalho no ano passado. Segundo a Eletros, o setor representa 3,30% do PIB industrial brasileiro.
A fabricação dos produtos da chamada linha branca, que inclui produtos como fogões, geladeiras e máquinas de lavar, foi o destaque de produção no primeiro semestre de 2019, com alta de 13% ante o mesmo período do ano passado. Também houve crescimento na fabricação da linha de portáteis, com salto de 10% ante 2018. Já os produtos da linha marrom, representados pelos eletroeletrônicos de áudio e de vídeo, mostraram queda de 16%, explicados, em parte, pela sazonalidade de vendas, já que o ano anterior foi de Copa de Mundo, ocasião em que os consumidores adquirem mais esse tipo de produto, como os televisores.
Reforma tributária é preocupação para o setor
Apesar do otimismo para o segundo semestre pela proximidade de datas que tradicionalmente representam oportunidade para o varejo como a Black Friday, o Natal e o pagamento do 13º salário, questões do âmbito político e econômico preocupam os industriais. Dentre os temas está a discussão da Reforma Tributária, levanta pelo governo de Jair Bolsonaro, e que deve ser uma das prioridades do Congresso após o recesso parlamentar.
Segundo José Jorge Nascimento Júnior, presidente executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), o setor espera “com cautela” as alterações, garantindo-se que não haja aumento das desigualdades regionais e, principalmente, a migração de investimentos entre os estados ou do Brasil para fora. “O setor produto não pode ser quem recebe as regras, e sim quem participa da elaboração delas”, avalia Nascimento.
Outro motivo de preocupação é o acordo comercial firmado entre o Mercosul e a União Europeia. Para a entidade, um tratado que não preserve negócios entre países que possuam as mesmas capacidades produtivas pode ser “extremamente danoso” à indústria nacional. Por isso, Nascimento diz esperar que a abertura comercial seja “gradual, equilibrada, com previsão e diálogo”.
O tema já vem sendo tratado individualmente com representantes de cada estado. No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde a indústria é considerada estratégica para o mercado nacional e internacional pela presença de empresas de grande porte como a Tramontina, conversas entre a associação e o governo gaúcho buscam mostrar a preocupação do setor com as possíveis perdas que a abertura de mercado acarretaria.
BRUNA OLIVEIRA/ESPECIAL/JC