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Pense verde. Responsabilidade & Sustentabilidade
ESG no DNA
por Stephanie Kohn
Difícil quem não associe Whirlpool à qualidade, seja pelo posicionamento inteligente de marca quando se fala de Brastemp, seja pelos produtos que compõem o quadro da companhia. Mas, ainda que a Whirlpool esteja no radar dos consumidores que buscam bons produtos, a empresa também se empenha em ser reconhecida em outras frentes. Com diversos compromissos públicos firmados, a companhia já estabeleceu e cumpriu metas ousadas de ESG, mostrando que a qualidade também pode ser vista no dia a dia de suas atividades. Para entender melhor as iniciativas de sustentabilidade, governança e meio social da empresa, Eletrolar News entrevistou Bernardo Gallina, vice-presidente de assuntos jurídicos, de compliance e corporativos da Whirlpool para a América Latina.
PÁGINAS VERDES – A Whirlpool atingiu, no Brasil, a meta de zero resíduos para aterro já em 2015, e seu programa de gestão hídrica alcançou a marca de 98% de recirculação de água no processo produtivo, projeto reconhecido com o primeiro lugar no Prêmio da Agência Nacional de Águas (ANA), em 2021. No ano passado, a Whirlpool converteu 100% de seu consumo em energia limpa, como eólica, solar e hidrelétrica, em suas unidades no Brasil. Na ocasião, duas de suas três fábricas (Manaus/AM e Rio Claro/SP) já alcançavam a marca, o que reforçou o compromisso global de ser Net Zero em todas as suas operações no mundo até 2030. Sabemos que para alcançar essas metas e se comprometer com objetivos ainda mais ousados foi preciso iniciar um plano muitos anos antes. Conte como foi o início desse processo de adequação ESG e quais foram os primeiros passos aqui no Brasil?
BERNARDO GALLINA – Na realidade, dentro da Whirlpool, já nos comprometemos com práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) muito antes de a sigla ser criada, se tornar popular dentro das organizações e reconhecida como fator importante nos negócios. Sustentabilidade e responsabilidade socioambiental fazem parte da estratégia corporativa da companhia há mais de 60 anos, não separamos nosso negócio das comunidades onde atuamos. E seguimos evoluindo em todas as frentes, sempre alinhados à nossa visão de melhorar a vida em casa – e no planeta –, investindo em ações ligadas à comunidade e ao meio ambiente e tendo a governança como base para nossas ações. Claro que, de lá para cá, muita coisa mudou, e nós temos a preocupação de acompanhar as tendências e necessidades de mercado para nos adequar às leis, obter as certificações corretas e seguir com uma agenda robusta que está em constante evolução. Temos marcos importantes, que terei a oportunidade de citar mais para frente, e sabemos que ainda há muito a fazer.
PV – A materialidade dentro do ESG pode ser definida como a relevância dos diferentes fatores ambientais, sociais e de governança para determinada empresa ou setor. Para alguns, essa materialidade, ou relevância, é medida pela régua da performance financeira. Ou seja, qual o tamanho do ganho ou perda que o gerenciamento de determinado fator ESG pode gerar para uma empresa. Como vocês avaliam a relevância das três esferas dessa sigla dentro da Whirlpool? Está certo dizer que, pela realidade do negócio, as causas ambientais acabam ganhando mais atenção?
BG –Nossa visão, desde a fundação, é melhorar a vida das pessoas em casa, e essa visão vai desde o desenvolvimento de produtos, passando pelos métodos e processos da nossa operação. Também estamos conectados às necessidades do mundo, e essa visão inclui as relações com colaboradores, parceiros e comunidades. Como mencionei anteriormente, estamos nessa jornada há mais de 60 anos e, ao longo do tempo, sentimos na pele a importância e relevância de uma agenda robusta nas três frentes, não só pelos impactos positivos no negócio, mas também nas comunidades ao nosso redor. Por isso, falar sobre ESG, sua importância e nossas iniciativas é um dever nosso para com a sociedade.
Dentro da companhia, medimos o impacto das nossas ações, e é perceptível a contribuição para um presente e um futuro melhores para as próximas gerações. Nos últimos anos, revisitamos de maneira profunda a nossa matriz de materialidade para identificar as nossas prioridades no tema ESG. Na frente ambiental, por exemplo, firmamos o compromisso de converter 100% do nosso consumo em energia limpa e certificada em todas as unidades no Brasil. Com essa ação, fortalecemos o trabalho que já vem sendo desenvolvido de redução de emissões de CO2 e eficiência energética das nossas operações, reforçando o nosso compromisso de ser Net Zero em todas as operações no mundo até 2030.
Em social, temos o Instituto Consulado da Mulher, ação social da marca Consul, que completou 20 anos em 2022 e já auxiliou mais de 38 mil mulheres em todo o Brasil, incentivando o empreendedorismo feminino e a geração de renda. Além disso, só no ano passado, a companhia investiu mais de R$ 7 milhões em 37 projetos alinhados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, por meio de incentivos fiscais e financiamento direto, impactando mais de 200 mil pessoas.
Já em governança, entre as iniciativas, a Whirlpool realiza a Semana Global de Integridade, com o treinamento sobre ética e compliance. Outro programa realizado globalmente na Whirlpool é o Responsible Sourcing, baseado nas três esferas do ESG, que olha atentamente para além de aspectos mais tradicionais de custo, qualidade e entrega, garantindo que o tema seja de conhecimento e parte da operação de nossa rede de milhares de fornecedores.
Outro ponto importante é que os consumidores não estão apenas interessados em comprar um produto, mas também querem saber quais práticas sociais, ambientais e de governança as empresas têm. E, de acordo com uma pesquisa encomendada pela Whirlpool no ano passado, isso se comprovou: 40% dos consumidores priorizam eletrodomésticos que usam menos energia e 35%, menos carbono. Por esse motivo, desenvolvemos produtos que refletem inovações que melhoram a vida dos nossos consumidores com atributos cada vez mais sustentáveis.
PV – Na parte social, nos últimos dois anos, a empresa apoiou 55 projetos alinhados aos ODS da ONU. Pode destacar um dos projetos de maior impacto às comunidades e seus resultados?
BG –Atuamos de perto com diversos projetos que estão alinhados aos 17 ODS, incentivando crianças, jovens e adultos em iniciativas ligadas a esporte, artes, cultura, educação, etc. Só no ano passado, apoiamos 37 projetos, em sua maioria nas cidades onde possuímos unidades fabris, que são Rio Claro (SP), Joinville (SC) e Manaus (AM), a fim de promover e engajar as comunidades locais, conscientizar e contribuir para uma sociedade e um futuro melhores.
Destaco que, de forma mais abrangente, patrocinamos o Festival Conhecendo os ODS, uma iniciativa brasileira que, ao lado de outros países da América Latina, como Argentina, Peru, Colômbia e México, apresenta cases de ações sustentáveis e resultados de pesquisas com dados que contribuem para o desenvolvimento dos 17 ODS em seus países. Na última edição, em 2022, foram mais de 43 mil participantes no evento online.
Todos esses projetos se somam à principal ação social da companhia, que é o Instituto Consulado da Mulher, iniciativa da marca Consul que apoia o empreendedorismo há mais de 20 anos. São mais de 38 mil pessoas beneficiadas em todo o País, ação também alinhada aos ODS, como alcançar a equidade de gênero (ODS 5), promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável (ODS 8) e erradicar a pobreza (ODS 1).
PV – Desde a pandemia, quando o conceito de ESG/ASG ganhou força no Brasil, assistimos a inúmeros casos de ESGwashing, a apropriação injustificada de algum tema importante dentro das causas sociais, ambientais e de governança. Muitas empresas se apropriaram de temas por meio de um teor marqueteiro e não apresentavam de fato uma justificativa para o seu posicionamento – ou o fizeram de forma superficial. Uma empresa pratica ESGwashing, por exemplo, quando seus esforços no universo verde não são proporcionais à grandeza de sua operação. Ou seja, ao anunciar investimento de R$ 1 milhão em energias renováveis sendo que seu faturamento supera os R$ 200 bilhões. Ou quando a participação de mulheres na organização é de 40%, mas nenhuma delas ocupa cargos de liderança. Outro exemplo é a prática de anunciar metas de redução de emissões de CO2 para daqui 30 anos sem apresentar um plano efetivo de curto e médio prazo ou um roadmap adequado de ações. Como a Whirlpool garante que não ocorra o ESGwashing dentro de suas iniciativas?
BG –Além do nosso legado de mais de seis décadas, que reforça nosso compromisso com as práticas muito antes de o tema se popularizar, anualmente divulgamos o relatório de sustentabilidade com o desempenho da companhia, de forma global, dentro dos três pilares, o que demonstra e garante todas as nossas iniciativas e práticas realizadas ao longo dos anos. Essa é uma das demonstrações da seriedade com a qual tratamos o tema aqui na Whirlpool. E para nos auxiliar nisso, a governança se torna extremamente importante no processo e permite toda e qualquer verificação das ações empresariais, sejam elas internas ou com parceiros estratégicos.
Ademais, certificando que nosso caminho está correto. Ao longo dos anos, estamos presentes em importantes índices globais e recebemos o reconhecimento de vários prêmios ligados ao tema ESG. Entre eles, fomos nomeados no Índice Mundial de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI), estamos entre os Melhores Empregadores do Mundo pela Forbes, entre as Empresas Mais Admiradas pela Fortune, conquistamos o 1º lugar na categoria de Sustentabilidade e CSR do Prêmio BandNews Marcas Mais Admiradas do Brasil; fomos reconhecidos no Prêmio da Agência Nacional das Águas (ANA) em 2021, pelo nosso Programa Gestão de Água 360º, e pelo Prêmio Fritz Müller, na categoria Gestão Ambiental.
Como disse, a jornada é longa, estamos construindo um legado, sendo referência no setor, e temos a confiança de nossos colaboradores, parceiros e consumidores. Mas, de forma geral, sabemos que há ainda muito o que evoluir em prol do planeta.
PV –No tema de governança, uma das iniciativas da empresa foi a obrigatoriedade de treinamento de ética que soma mais de 20 horas. Que tipo de assunto é abordado nesses treinamentos e como vocês avaliam a eficácia dessa ação?
BG – Da sigla, muito se fala sobre o E/A e o S. Mas não podemos deixar de mencionar e ressaltar que o G, de governança, perpassa tudo. Na Whirlpool, contamos com o Programa Global de Ética e Compliance, focado em aprimorar e sustentar nossa cultura de vencer com integridade. Um pilar do nosso programa é o Manual de Integridade (Código de Ética). Além do Manual, temos, anualmente, a Semana da Integridade que, somente em 2022, somou mais de 7 horas de sessões, além das ativações presenciais e vídeos da liderança, com mais de 20 horas de treinamento obrigatório sobre ética para colaboradores. Outros treinamentos sobre proteção de informações confidenciais, respeito no local de trabalho, saúde e segurança, dentre outros, somaram mais de 4 mil participações.
Falar sobre ética e compliance é extremamente importante para manter relacionamentos transparentes dentro do ambiente corporativo, seja com colaboradores ou stakeholders, além, claro, de melhorar o clima organizacional, integrar lideranças e equipes, etc. E dentro da Whirlpool, a governança é um pilar essencial para a companhia e, por isso, costumamos dizer: “não existe jeito certo de fazer a coisa errada”, um lema que deve ser usado dentro e fora da empresa.
PV – Um dos maiores desafios das empresas focadas em construir uma cultura ESG/ASG é encontrar profissionais aptos a isso. Como vocês resolveram essa questão? Conte-nos como é a estrutura ESG dentro da Whirlpool Brasil em termos organizacionais e de times.
BG –Na Whirlpool Brasil, temos uma estrutura dedicada ao tema ESG, que tem total intersecção com as demais áreas da companhia. Entendemos que ESG precisa ser pensado em todas as frentes da empresa, seja na manufatura e processo produtivo, no marketing para criação de campanhas, entre líderes e liderados, desenvolvimento de produtos, entre outros. ESG vai muito além da sustentabilidade. É incentivar e sensibilizar nossos colaboradores e toda equipe sobre a responsabilidade de cada um para um presente e futuro melhores. Além dos nossos conselhos e comitês, globais e regionais, temos o ESG Task Force, um grupo formado por lideranças de diversas áreas, que se reúne mensalmente para supervisionar progresso, identificar e gerenciar desafios, monitorar tendências e fornecer relatórios ao Conselho e ao Comitê de Sustentabilidade.
Fonte: Revista Eletrolar News – Edição #154