O novo mundo da anteligência artificial
Há um mundo a ser construído com a inteligência artificial (IA). Se por um lado desperta fascínio, como toda inovação, por outro provoca temores, principalmente em um país como o Brasil, com regiões que têm níveis desiguais de desenvolvimento. São compreensíveis o medo da perda de empregos e a insegurança frente a uma máquina inteligente, mas não é possível ignorar que ela já está presente em setores da economia brasileira, contribuindo para a evolução do País. Uma estratégia digital bem-sucedida pode acrescentar 5,7% ao PIB brasileiro, o equivalente a US$ 115 bilhões, demonstra estudo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Para debater a importância da inteligência artificial, principalmente na indústria e no varejo de eletroeletrônicos, a revista Eletrolar News reuniu especialistas para a abordagem de temas que serão aprofundados no Isummit de Inteligência Artificial para o Varejo, que ocorrerá nos dias 30 e 31 de julho próximo, durante a 14ª Eletrolar Show, a maior feira de negócios do setor de eletrodomésticos, eletroeletrônicos, celulares, TI e UD, com a coordenação da I2AI – International Association of Artificial Intelligence.
A inteligência artificial muda tudo à nossa volta, disse Carlos Clur, CEO e publisher de Eletrolar News, na abertura do encontro. “No Isummit, vamos mostrar como a inteligência artificial contribui para o varejo ter maior agilidade e oferecer ao seu consumidor uma experiência muito melhor. Queremos que os líderes aprendam as melhores práticas de processos que podem ser colocadas em suas empresas, tanto de dentro para fora como vice-versa, pois ainda não sabemos como será esse novo mundo.”
Consumidor omnichannel
Multinacional brasileira, a Neogrid atua há 20 anos na área. Há três, abriu um canal de eletros para estudar, dentro da inteligência artificial, a cadeia de abastecimento e o comportamento do consumidor. “Estamos inseridos nesse contexto bastante nervoso. É preciso garantir que o consumidor encontre o produto que ele quer na hora e onde quiser. Nossas tecnologias olham para hábitos de consumo, pois é preciso desvendar o mistério de onde o consumidor vai comprar e o quanto vai comprar”, contou Robson Munhoz, vice-presidente de operações da América Latina.
Nesse ponto entram os algoritmos, cuja leitura correta e mecanismos permitem avaliar o ciclo total percorrido por um eletrodoméstico, por exemplo, da produção à chegada ao consumidor. “Nossos desafios são bastante grandes, mas sem a inteligência artificial não daria para fazer nada”, explicou Robson, destacando que há experiências mundiais fantásticas. “O futuro, no entanto, não está pronto. Somos nós que iremos construí-lo.”
Carlos lembrou como os produtos e processos vêm evoluindo nos últimos anos e citou o televisor, a conectividade e o smartphone como exemplos. “Este último mudou o comportamento e o hábito de compra do consumidor, que passou a ter tudo na palma da mão. E agora vem a tecnologia revolucionária aplicada em todos os produtos e processos da indústria e do varejo.” Também chamada de quarta revolução industrial, a inteligência artificial deve movimentar US$ 100 trilhões nos próximos 10 anos, segundo estimativa do Fórum Econômico Mundial.
Velhos sonhos
A capacidade de processamento das máquinas permitiu a realização de muitos sonhos de antigos cientistas, disse Alessandro Germano, head of business development do Google. “Nesse momento de avanço da inteligência artificial, o Google tem soluções para a casa digital, prestativa e pensante, e minha função é cuidar da distribuição, ou seja, como colocar o assistente mais acessível às pessoas. O desafio, agora, é explicar essa tecnologia para que seja sentida como algo próximo e fácil de usar. Acreditamos muito na capacidade da indústria e do varejo para ajudar a educar o consumidor.”
Muitas vezes, as pessoas não percebem que a tecnologia já está presente em ações corriqueiras, como quando chamam um carro por aplicativo, buscam caminhos no Waze, utilizam dispositivos de automação e a TV inteligente. “Quando elas acessam a Netflix, por exemplo, esperam que a televisão tenha conectividade. Um número maior de pessoas vai se valer da tecnologia à medida que ela ficar mais transparente. Estamos evoluindo, mas ainda não percorremos nem 5% do caminho para uma usabilidade mais fácil”, destacou Marco Antonio Lauria, senior business consultant e membro do conselho da I2AI.
As mudanças são grandes para quem nasceu offline, enquanto para os millennials tudo é esperado e natural. É preciso, no entanto, respeitar o tempo de cada um para se adaptar às tecnologias que estão chegando, porque, às vezes, o consumidor tem um ritmo mais lento. “Tecnologia é uma coisa que todo mundo pode utilizar, ela não é só para jovens ou ricos. Democratização, no caso, é um verbo importante. Não se pode viver em um ambiente de microclima. Se não percebemos essas variações, perdemos o bonde”, disse Alessandro.
IA no varejo e na indústria
O Brasil tem diferentes realidades, mas grandes fornecedores estão com os olhos muito voltados aos pequenos varejos. No entanto, alguns desses não sabem que já é possível democratizar a chegada da tecnologia aos seus negócios, contou Massimo Di Marco, titular de relações institucionais da Neogrid. “A única ferramenta que o pequeno varejo tem para coletar dados é o cupom fiscal. E quando se faz a captura deste, a inteligência artificial nos mostra que, bem utilizada, ela obtém todas as informações que interessam.”
A inteligência artificial também mexeu, e muito, com o estoque. “Estoque custa caro, ninguém mais o terá, porque o consumidor comprará em uma loja e retirará o produto em outra. A loja poderá ser um showroom, mas sem estoque, vendendo por encomenda e com entrega rápida. Quem ficar com estoque terá capacidade ociosa”, disse Robson, da Neogrid. Com a omnicanalidade, as lojas poderão se tornar pequenos centros de distribuição que atendem a área onde estão localizadas de forma rápida.” É uma transformação importante.
Processos tradicionais poderão ser eliminados pela inteligência artificial. Indústria e varejo não precisarão mais fazer reabastecimento, explicou Robson. “Hoje, um lojista não pede 10 produtos quando seu estoque está no fim, porque, à medida que as vendas forem acontecendo, a indústria fará a reposição, ela reconhecerá a capacidade daquele ponto de venda. Com isso, poderá mudar o papel do comprador. Ele não irá discutir quantas unidades precisará comprar e será um introdutor dos produtos e acompanhante da vida útil deles. Produto que não vende pode morrer da noite para o dia.”
Fases do consumo
A primeira revolução do consumo se deu quando as multinacionais desembarcaram no Brasil. A segunda ocorreu quando o varejo disponibilizou a venda de produtos em vários espaços das cidades. Hoje, a revolução se dá com o consumidor que escolhe se vai comprar na loja física ou virtual e onde quer retirar o produto ou se quer recebê-lo em casa. Agora, são os dados que fazem a quarta revolução do consumo, e a inteligência artificial entra para organizar e facilitar as transações.
Hoje, o Brasil tem varejos em diferentes estágios. Muitos, porém, não acordaram para a tecnologia. Ainda existem os tradicionais, que compram o produto, colocam uma margem para seu lucro e o vendem. Há os muito avançados e também os regionais, em locais distantes, que fazem o abastecimento com o seu jeito de ser. “O Brasil é um celeiro para testes, tem alta, média e nada de tecnologia”, afirmou Robson.
“Estamos todos aprendendo com a inteligência artificial”, observa Alexandro Romeira, cofundador da I2AI – International Association of Artificial Intelligence, que considera irreversíveis esses avanços. “A inteligência artificial dá agilidade ao varejo. Há soluções para aumentar as vendas”, acrescentou Alexandre Del Rey, que coordenará o isummit de Inteligência Artificial para o Varejo na 14ª Eletrolar Show.
IA e as profissões
A indústria era o segmento que menos gastava em tecnologia, contou Marco Antonio. “Isso está mudando por causa da sobrevivência. Para o varejo, será uma questão de tempo.” Hoje, a indústria, muitas vezes, tem dificuldades para encontrar um profissional que conhece e está apto a enfrentar as transformações que estão ocorrendo. Desenvolvedor de softwares, por exemplo, tem emprego garantido.
Nem todas as profissões serão afetadas da mesma forma. Algumas, nem todas, serão substituídas. “A grande preocupação é a polarização que está se criando, há cada vez mais trabalhos ruins e outros ótimos, que exigem muito conhecimento das tecnologias. Isso é perigoso porque a sociedade fica cada vez mais desigual”, explicou o senior business consultant.
A velocidade da transformação é maior que das vezes anteriores, e o trabalho pede uma especialização muito grande. O treinamento das pessoas deve ser constante, é um novo tipo de postura. É preciso refletir sobre as profissões. As que continuarem serão diferentes. Tudo o que é padrão será afetado pela inteligência artificial. Com isso, será configurada uma forma diferente de comportamento e de relação do conhecimento com o trabalho.
Fonte: Revista Eletrolar News ed. 130